A Travessia do Deserto

Todas as religiões têm períodos voltados à reflexão, e cada uma possui o seu calendário de datas importantes para seguir.

Para os católicos, a Quaresma é um tempo propício para tornar a pessoa mais consciente de si mesma, através do recolhimento interior, da oração, do jejum e caridade.

Todos são acolhidos para viver esse período para purificar a mente, renovar o coração, perdoar, se reconciliar com o próximo e estar mais tempo com Deus.

O deserto foi o trajeto de 40 dias percorrido por Jesus, marcando o início da Quaresma.

Após ter sido batizado por João Batista no rio Jordão, Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, onde permaneceu 40 dias em jejum e oração e foi tentado pelo diabo.

No fim de 40 dias, o diabo aparece a Jesus para tentá-lo, de um modo frontal, sem máscaras ou camuflagem.

No silêncio do deserto Jesus experimentou um encontro pessoal com o Pai, discernindo sua vontade para saber como agir em sua missão.

As três tentações sofridas por ele foram um cilada de satanás para seduzir e transferir a fidelidade de Jesus a Deus para ele mesmo.

O propósito de Deus, ao permitir que Jesus fosse tentado, é para que o ser humano estivesse seguro de possuir um Amigo que compreende suas debilidades e fraquezas.

Foi a natureza humana de Jesus que permitiu essa compreensão, por ter sido submetido às tentações e vencido todas elas.

 

O significado das três tentações

  • A primeira tentação inclui os desejos físicos do ser humano.

Não comendo nada nesses dias, Jesus teve fome. O diabo aproximou-se dele e lhe disse:

“Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães.”

Jesus respondeu:

Está escrito: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Deut 8, 3).

Significado:

O diabo propõe a Jesus que não se sacrifique, que use o seu poder para conseguir o pão material e não o “pão da vida” espiritual que estava buscando.

Jesus se nega a usar seus poderes especiais em benefício próprio.

  • A segunda tentação se refere à soberba da vida.

O demônio o transportou à Jerusalém, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe:

“Se és Filho de Deus, lança-te daqui a abaixo!”

Disse-lhe Jesus:

Também está escrito: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Deut. 6,16).

Significado:

Se Jesus tivesse saltado e saísse vivo, seria aclamado como alguém poderoso e teria inúmeros seguidores, sendo que a sua missão era revelar a ilusão desse poder, que os valores do bem, da justiça e do amor ao próximo é que devem prevalecer.

  • A terceira tentação mostra o fascínio da riqueza e do poder.

O demônio transportou-o uma vez mais a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória e lhe disse:

Darte-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares.

Respondeu-lhe Jesus:

Para trás, Satanás, pois está escrito: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás” (Deut. 6,13).

Significado:

O tentador mostra-lhe que, com seu apoio, Jesus poderia abandonar sua missão para obter benefícios e riquezas humanas, dominar os povos e submetê-los a todo tipo de injustiças.

O diabo mais uma vez é derrotado, e vai embora…

 

A travessia do deserto rumo à Ressurreição

Depois de Jesus ter sido tentado em sua humanidade, após padecer sua Paixão e Morte na cruz, ressuscita vivo no Domingo de Páscoa, revelando a todos que nele creem que existe uma realidade além da morte e que a vida continua…

No deserto, a natureza humana se revela em toda a sua fragilidade.

Um lugar de provas, tribulações e dificuldades.

Quente, árido, solitário, silencioso, difícil, estressante…

Quem caminha no deserto fica com sede e não encontra água, fica com fome e não encontra comida. Completamente vulnerável, não há lugar para se esconder.

As mudanças de temperatura são enormes, de dia o calor é insuportável, acima de 40 ºC, de noite faz frio abaixo de zero.

No deserto não se valoriza conforto, bens ou honrarias…

O deserto se torna um lugar insuportável se não reagimos.

Sua aridez se assemelha aos corações que não se curvam ao arrependimento e à mudança de vida.

Todos passam na vida por tribulações, desafios e necessidades. Tornar esse deserto num lugar frutífero exige mudanças.

Se Jesus, como homem, pôde superar as suas tentações, nós também podemos fazê-lo com a ajuda de Deus.

Uma tentação nunca é superior às forças humanas, principalmente para aqueles que confiam e se entregam a Deus.

Deus faz do deserto um lugar sagrado. Ele pode ser transformado por Sua mão poderosa, e maravilhosas bênçãos serão derramadas sobre nós.

“Eis o que diz o Senhor que te criou, que te formou desde o ventre materno.

Porque derramarei água sobre o solo seco e a farei correr sobre a terra árida,

Derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e minha bênção sobre teus filhos.” (Profeta Isaías)

“Jesus era verdadeiro homem, em tudo semelhante aos outros homens, que sofreu tentações. Por isso, Ele pôde entender a nossa debilidade, pois teve as mesmas tentações” (Carta de S.Paulo aos Hebreus 2,17).

Será que estamos dispostos a entrar no deserto?

Existe um encanto das trevas que se apresenta camuflado, que atrai e faz mal às pessoas.

A tentação é um desafio à nossa liberdade. Ela é simplesmente inevitável e a sofremos todos os dias. Não é algo desonroso, mas deve ser vista e identificada como uma fraqueza humana.

 

Qual é a sua tentação?

As tentações sempre apresentam dois caminhos para agir; um bom e o outro mau.

Essa dualidade constitui a tentação.

Se escolhemos a via correta, crescemos e amadurecemos; se optamos pelo errado, nos prejudicamos.

Nos esforçamos para dominar nossas más inclinações?

A raiva, o rancor, a inveja, o ciúme, o egoísmo, a arrogância, os vícios, a idolatria…

Pois é dentro de nós que tudo isso se forma!

O que torna o homem impuro não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.

As palavras de Jesus se referem ao que sai da nossa natureza humana !

Dentro de nós estão escondidos os maus desejos, as más inclinações, os julgamentos, a maldade…

Se olharmos para nossa vida, perceberemos que esses sentimentos se acumulam, modelando o nosso comportamento.

 

Precisamos perdoar e pedir perdão

– Quantas lembranças e antigas feridas podem voltar!

– O nosso lado racional não para de nos lembrar das dores recebidas e das ofensas cometidas, remoendo os nossos pensamentos.

– A raiva e o ressentimento vão se instalando em nosso interior. As situações mal resolvidas que simplesmente “enterramos” fica guardadas e esquecidas, mas quando vêm à tona se tornam um verdadeiro monstro!

– Quando não gostamos de alguém, isso nasce do nosso coração. Não é a pessoa que provoca isso em nós, é o que está dentro de nós que aflora para desejarmos o mal a essa pessoa.

– Quando alguém pratica o adultério, não é o outro que o provocou; dentro do coração foi alimentada a sensualidade e a ação desse desejo.

Precisamos viver o amor e a compreensão.

Um dos caminhos para a nossa cura é a oração. Quando ela é feita com fé, provoca verdadeiras transformações. Com o tempo as más lembranças serão apaziguadas ou apagadas por completo.

 

Purificando a mente e o coração

“Divino Espírito Santo, que iluminou Jesus em sua travessia no deserto.

Descei sobre mim e cobri-me com o seu poder de cura.

Limpai a minha mente e o meu coração dos maus desejos, dos vícios, da falta de perdão…

Não deixeis surgir pensamentos de vingança, autodestruição, ansiedade, tristeza, ódio, rancor, ciúme, inveja…

Expulsai de mim todos os pensamentos sombrios e agressivos.

Atendei a minha prece, Senhor!

Obrigada meu Deus, por ouvir o meu pedido!

Amém.”

 

O demônio tentou desviar Jesus do caminho correto e fasciná-lo com promessas e bens terrenos.

Caímos em muitas tentações, mas nada superior ao que podemos suportar.

A batalha espiritual é grande, por isso precisamos estudar e meditar sobre a palavra de Deus.

 

Grande abraço,

Jane Fiorentino

 

O conteúdo deste post é de inteira responsabilidade do autor. – escrito por Jane Fiorentino.

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4 thoughts on “A Travessia do Deserto

  1. Igor Stumpf says:

    Oi Isabella, meu nome é Igor Stumpf, também sou católico e fiquei bastante feliz em ler esse texto. Sou da cidade de Petrópolis – RJ e participo de um grupo chamado Oficina de Valores que além de trabalhos pastorais, possui também um blog com textos interessantíssimos. Se puder e quiser, dê uma olhada. 😉

    http://oficinadevalores.blogspot.com.br/

  2. Rafael Mesquita says:

    Parabéns pelo texto parabéns pelo exemplo de católicos, gostei muito da iniciativa de partilhar a importância da Quaresma do jejum, em meio a esse deserto que estamos temos sede, temos fome, temos a certeza de que o senhor Jesus Cristo nos alimentará com o seu corpo, obrigado pelo texto um grande abraço.

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