A gola alta, também conhecida como gola rolê, é uma peça essencial no meu guarda-roupa, principalmente em tricots. Acho uma peça fácil de usar e básica, super importante na hora de compor meus looks de inverno. É um item coringa para fazer sobreposições com vestidos, camisas, casacos e outras blusas. A gola alta virou ícone de estilo de personalidades nos anos 1950 e 1960, com os integrantes da banda The Beatles, The Rolling Stones, Elvis Presley e também com a atriz Audrey Hepburn, com seu estilo descomplicado e elegante.
Quando nos vestimos todos os dias, geralmente não consideramos o contexto histórico de cada peça. Ao usar uma blusa de gola alta, por exemplo, você sabe que está “carregando” anos de história ao longo do seu dia? Acredito que a moda consciente é mais do que entender de onde nossas roupas vieram fisicamente, mas como elas viajaram no tempo para pousar em nossos armários hoje. Ser um comprador mais atencioso inclui compreender melhor as peças que fazem parte do próprio estilo de vida. Acho muito emocionante saber quais eventos ocorreram ao longo da história para me fazer escolher uma peça de roupa agora. A moda não é por acaso!
Usar uma gola alta me faz sentir elegante e forte. A gola alta é ao mesmo tempo chique e sensual. Essas associações fazem muito sentido quando contextualizadas na história dessa peça. A gola alta foi símbolo de força, rebelião, estilo e modéstia ao longo da história.
Usadas pela primeira vez de forma consistente no século 19, as golas altas eram peças principalmente para a classe trabalhadora, devido à sua praticidade. A Marinha, os pescadores e outros trabalhadores usavam-na como roupa para proteção contra o frio. Em 1860, os jogadores de polo começaram a se vestir com elas enquanto praticavam o esporte, e assim a gola alta ganhou seu nome original: “pescoço de polo”.
Para o resto do século 19, a peça foi reservada para homens trabalhadores e jogadores de polo, mas passou para a moda feminina no início do século 20, com o surgimento da “Gibson Girl”. Esse personagem fictício foi descrito como o “ideal visual” de 1890 a 1920. Estava associado a uma mulher bonita, ativa e independente.
Nas décadas de 1940 e 1950, a silhueta icônica moderna do item foi formada e usada principalmente por Jayne Mansfield. A gola alta passou então a ter um estilo mais sedutor.
Avanço rápido de alguns anos e Audrey Hepburn trouxe o visual “beatnik” ou “bohemian” ao público em seu famoso filme Funny Face (Cinderella em Paris). O pulôver com gola alta ainda tem um fascínio poderoso que comunica: “Eu sou diferente”. Daí a crescente associação da gola alta com acadêmicos radicais, filósofos, artistas e intelectuais.
Nos anos 1970, ativistas feministas como Dorothy Pitman Hughes e Gloria Steinem, bem como grupos como os Panteras Negras, vestiam essa peça. As golas altas proporcionavam um estilo único de uniforme.
Depois de uma década agitada como elemento básico da resistência, esse item de vestuário teve um período de descanso nos anos 1980. Nessa década, ele tornou-se uma peça básica do guarda-roupa.
Em algum ponto em meados da década de 2000, as golas altas tornaram-se um símbolo de modéstia e prudência. Elas eram usados por crianças e adultos conservadores, em uma metáfora para seu estilo de vida ou crenças pessoais.
Hoje, como a maioria das peças de vestuário, a gola alta tem muitas associações e interações.
No entanto, a versão da gola alta em cores básicas e de manga comprida sempre terá um certo fascínio e apelo muito além da praticidade.
A maneira que eu uso muito hoje, e que acredito que atualize a peça, é com colares e correntes por cima da gola. Fica bem moderno!
E vocês, se identificam com a gola alta? TÊm alguma peça especial, com memória afetiva, no seu guarda-roupa?